quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Livro do desassossego



"Eu tenho uma espécie de dever,
Dever de sonhar
De sonhar sempre,
Pois sendo mais do que
Um espectador de mim mesmo,
Eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
Em salas supostas, invento palco,
Cenário para viver o meu sonho
Entre luzes brandas
E músicas invisíveis"

Fernando Pessoa

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Eu não tenho saco


"Eu não tenho saco. Eu tenho assim essa lembrança de festa de aniversário de minha infância... Maravilhosas. Mas eu acho que hoje tudo é demais. Tudo é over. Você não pecisa chamar um palhaço, um mágico, um pula-pula, gastar cinco ou seis mil reais. Acho legal organizar as festas das crianças. Acho legal as crianças ficarem juntas. Acho legal essa coisa das crianças se encontrarem e tal. Mas, eu acho demais. É over, over demais." Esse depoimento foi dado em uma entrevista anônima, que Lúcia Castro pôs no livro Infância e adolescência na cultura de consumo (p. 180).

Mas, eu li o referido depoimento em uma citação introdutória em Psicanálise e Psiquiatria com crianças, de Oscar Cirino, e no meu costumeiro viajar enquanto leio (algo com ir relacionando uma leitura à outra ou ao meu cotidiano) não pude deixar de pensar em minha formatura. Falta tão pouquinho...mas a coisa nem é essa!

Na verdade comecei a me questionar: O que é essa tal formatura? Pra que serve os agradecimentos? Pra quê festa?... Eu, sinceramente, não gosto dessa posição de "já formado" que os farmandos se colocam e não me agrada, nem um pouco, a idéia de gastar o suado dinheirinho em uma festança pra society. E lá vai aquele velho questionamento sobre a sociedade de cosumo, o adoecer social, ao mal-estar na modernidade, laço social e o objeto de consumo (o tal gadget) subjugando ou formando o sujeito, a falta de gozo e lá vai... vai longe...

E lá vai?! Quem falava isso?? Ahh, aquela paciente....

Volta Miziane, volta!!!! Vamos lá, vamos começar novamente!

"Eu não tenho saco. Eu tenho assim essa lembrança..."



segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Urgente


"É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer."

Eugénio de Andrade

sábado, 11 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Morte e vida explosiva


"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

(Morte e Vida Severina)

João Cabral de Melo Neto