segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ah, as mulheres de vinte


Ah, as mulheres de vinte anos! Entre vinte e trinta. É o que há de melhor em mulheres no Brasil. E, antes de ser tachado de velho tarado, aviso: não estou falando do corpo, não. Mas da cabeça. É a cabeça menos preocupada em se tornar linda fisicamente. São lindas, simplesmente são. Desde a geração da minha bisavó (nascida no final do século 19) eu não vejo mulheres brasileiras tão autênticas. Tão elas. São elas, entre 20 e 30.
E eu acho que eu vou arriscar um palpite. Elas são filhas do que já houve de mais doido e revolucionário neste Brasil. São filhas de ex-hippies, ex-lideres políticos estudantis ou de outras minorias, filhas de pai que já fumaram (e a maioria tragou), filhas de quem viu o homem subir no espaço e dizer que a terra é azul e, especialmente, filhas de feministas quase ortodoxas. Enfim, filhas de uma geração que lutou para abrir portas.
Os seus pais, por serem iniciantes (além de muito jovens) em suas rebeldias, foram extremamente radicais. Me lembro de uma amiga feminista que não admitia que um homem segurasse no seu cotovelo para ajudar a atravessar a rua. Mas as mulheres de vinte não são feministas, são fêmeas. Ponto.
E as mulheres, que hoje têm entre 20 e trinta anos, souberam amenizar todo aquele nosso radicalismo. Parece simples, mas já nasceram com a sabedoria e a revolução que seus pais fizerem. Alguns, até morrendo.
Tudo isso além, é claro, daquela tatuagem que entra para dentro do biquíni, só pra gente ficar imaginando o que é aquilo e onde vai dar. Além, é claro, daquela orelha cheia de brilhantezinhos. Além, é claro, daquela certeza de quem sabe que é. Além, sobretudo, do tom que vai do cor-de-rosa ou jambo verde-amarelo.
Antes mesmo de começar a escrever sobre você, que tem entre 20 e 30, recebi um mail de uma de 22, jornalista e emancipada:
“Meu querido, mulher de 20 e poucos anos, não fica rindo quando fuma um baseado, não. Fica sim, louca para ficar, para experimentar todas as sensações que, por ter 20 e poucos anos, ela ainda não conhece. E não há nada mais excitante do que a curiosidade - principal qualidade da mulher de 20. E com 20 anos essa curiosidade vem livre de medos e receios, pronta para usar e aguçar.
Mas o melhor de tudo é que com vinte e poucos anos vc acredita que a vida é simples; que nós vivemos do que acreditamos; amamos tudo e todos, queremos dar e receber muito amor; conhecer gente, trocar energias, pegar um pouquinho de cada pessoa que passa pela nossa vida, desejar apenas fazer o bem, ser uma pessoa boa. Papinho bicho grilo este, né? Pode ser, mas tão mais saudável do que pensar na barriguinha que tá crescendo, no botox que é caro, no cabelo que precisa de escova, no medo de envelhecer e etc”....
Ah, as mulheres de vinte... Abreviam tudo!
A maioria delas já é mãe. São mulheres que convivem com filha, mãe e avó. Algumas até com bisavó. Apenas elas podem tirar proveito de viver um século inteiro sem sair de si mesmas. Aprendeu com a avó, com a mãe e agora se assusta com a própria filha. Que não a chama de senhora, onde já se viu? E a enfrenta na frente “das visitas”.
Demorou um século para surgirem as mulheres de vinte. E nos puseram nos nossos devidos lugares. Admiradores, fãs e, porque não dizer, pai de uma delas que me ensina, diariamente, que viver não é tão complicado assim. Basta ter vinte anos. Sempre. Mesmo tendo acabado de fazer 58!

Mario Prata (2004)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dia Nacional do Chorinho




Morreeeeendoooooo de cansada, mas não se pode esquecer a beleza que no mundo existe!!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ser profundo...


lá no fundo não tem luz
que reluz e dá sabor
ventos, cabelos e nús
despenteando o amor

nem a dor é cor vermelha
o rancor te dói a veia
faz o peso ser tão peia
que carrega à vida alheia

com os gritos e murmurios
infectando alguns rios
lençois freaticos e bebidas
avassalador de vidas

prefiro a cor da fruta viva
a rapariga toda perdida
de amores e desejos
esperando uma mordida

e engordar e esfalecer
melhorar e fazer de novo
cada momento novo gozo
e se a hora merecer
tudo de novo

isso sim
ao invés de poço
ser profundo
ser de novo


Felipe Amarante
(um presente que ganhei)
figura: The Garden (Miró)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Violência

"O maior perigo não está nas armas e nas bombas, nem nas guerras e nos militares, mas no coração humano: agressão, fanatismo, prepotência, excesso de zelo, incapacidade de imaginar, incapacidade de ouvir, de rir, principalmente rir de nós mesmos". Amós Oz

terça-feira, 15 de abril de 2008

Lavoura

E eu aqui louca pensando no filme “Lavoura Arcaica”, que por sinal achei lindíssimo, e lamentando porque não pude ir pra discussão que teve sobre ele. Mas...enfim, o que se pode falar sobre ele sem ser um perverso desejando um incesto com uma histérica??
E me volta a saga do Movimento Institucionalista, pois então o que é uma família senão uma instituição? Instituições como sendo composições lógicas, um conjunto de leis e princípios que prescrevem ou proscrevem comportamentos e valores, ou seja, dizem o que deve ser, o que não deve e o que é indiferente, sendo entidades abstratas.
Então o que vejo aí? O conceito de atravessamento (instituídos) contra as transformações postas pela Transversalidade (instituinte) tentando uma fracassada transformação, uma ruptura com a cultura de dominação, exploração e mistificação.
O pai fica apenas como o símbolo maior do instituído, pois a família toda segue a cultura patriarcal, sem contestação, sem indagações ou qualquer movimento de revolta, eles seguem as regras impostas com total apatia, regras de religiosidade, de paciência, complacência de sacrifícios... O André assume o posto de instituinte, de força transformadora da instituição, um processo, um movimento dentro dessa instituição fechada e tão sólida que é a família e suas austeras regras.
Isso, isso...esse é um de meus olhares sobre esse interessantíssimo filme, esse é um dos milhares de olhares que quem assistiu pode ter.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O ser doente

" ...compreender o ser humano, o existir-aí-no-mundo, na sua plenitude, no seu complemento. Esta compreensão só se dá, de forma significativa, quando assume o homem como podendo-não-ser-aí-no-mundo a qualquer momento. Enquanto o humano não chegar até seu fim, e quanto não houver ele percorrido toda sua trajetória no mundo, ele permanece incompleto. Não chegou a completar a sua inteireza, a sua totalidade. O homem, como ser-no-mundo, tem acesso ao significado de estar-sendo e este é o ponto mais importante, porque e somente porque é finito."
Martins J.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Erótica!!

Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

Rubem Alves

Figura: Monet

domingo, 6 de abril de 2008

Mamis


...depois de 5 min o telefone toca, é Perol:
-Mizi?!
-Oi
-Tá sabendo da novidadeeee?
-Tô!!!!!
- E aí?
- Adoreeeiiii! E você?
-Também!!! Como você tá se sentindo?
- Hum...que só falta eu e você...
- Ahhh, mas dependendo de nós duas...eu tenho namorado, né?!
- Sei...tô me sentindo tia mesmo!!! Já que nem namorado tenho...
- kkkkkkkkkkk
-kkkkkkkkkkkkkk
-Mas se depender de mim, nada feito.
- Apois daqui que eu desencaminhe todos esses sobrinhos...vai demorar pra querer ter o meu! Repare só: tenho que contar a vida dos pais pra eles, tenho que ensiná-los a responder, a desobedecer, tenho que ensiná-los a dizer "que nada, tô de boas", tenho tanta coisa de ruim a passar...tão cedo nem tenho tempo!!!
-kkkkkkkkkkkkk. Idiota!!!!!!
- E o seu quando sai?!
...
Mamães de 1ª viagem: Tânia, Simone, Nara, Beth, Amanda, Liana, Poliana, Joseane, Roseane, Natália, Gabi, tia Márcia e a tia Rose (que não é de 1ª, mas é a mãe de Lelê - gostosíssima) !!!!!!

sábado, 5 de abril de 2008

Aracaju!!!

Eu estava singelamente aproveitando mais uma sessão "sexta à noite: tempo de derrota" deitadinha em minha cama ensaiando um provável estudo de uma das apostilas que me perseguem e cruzam meu caminho...assim, só esperando a vontade chegar. E,como sempre, não deu outra, logo pensei: vou ligar a TV rapidinho, só pra ver que programaaaçoo está passando. Eis então minha surpresa: Aracaju...destaque na Globo!!

A surpresa não foi ela ter sido eleita a capital de melhor qualidade de vida...não, isso era mais que provável, a surpresa foi o mundoo reconhecer isso!!! E rachei de rir com a repórternaquela bicicletinha ridícula andando na ciclovia perto do DIA, e todos os pedreros atrás tendo seu dia de glória; com todas aquelas senhoras (que não passavam de dez) fazendo o melhor de si nos exercícios pra sair bem na Globo; com todos aqueles caras indo trabalhar e subindo a ponte dos cajueiros de bicicleta...e enfim pensei que era bem provável me pegarem no meio da pederagem, que meus iguais (proprietários de uma velha bike) estavam sendo elogiados por preservarem a saúde e o meio ambiente...e me veio uma conclusão final: como é bom ser pobre, não tenho carro nem dinheiro pra pagar minhas contas, quando pego minha magrelinha vermelha e saiu não posso passar numa construção ou no meio desses ilustres coadjuvantes do Globo Repórter sem ouvir um singelo elogio, mas estou sempre com a pele com um bronze, continuo em forma, meu coração está bem saudável, o meio ambiente agradece...kkkkkkkk

Como é bom não ter um carro, como é bom não ter dinheiro pra táxi, como é bom morar em Aracaju!!!!

PS: muitas vezes ando porque gosto mesmo ;)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Brasil



E eu nunca mais me atrevo a dizer que no Brasil não existe cobra no meio da rua, nem macaco andando pela praia!!!

Créditos do vídeo: Davi e Mariano.

Singularidade


" A Folha de São Paulo convidou Guattari para uma mesa-redonda, pedindo-lhe que propusesse um tema. Ele sugeriu "Cultura de massa e singularidade". No entanto, o título anunciado foi "Cultura de massa e individualidade". O termo "singularidade", segundo disseram, parecia ao jornal demasiadamente sofisticado, inacessível a seu leitor - exatamente, o consumidor de cultura de massa...

Ao substituir o termo "singularidade" por "individualidade", o jornal, curiosamente, encenou o próprio tema do debate: cultura de massa e singularização não podem aparecer numa mesma frase; elas são, na realidade, incompatíveis. A imprensa, enquanto produtora de cultura de massa, alimenta-se de fluxos de singularidade para produzir, dia a dia, individualidades serializadas. Democraticamente, ela "amassa" os processos de vida social, em sua riqueza e diferenciação e, com isso, produz, a cada fornada, indivíduos iguais e processos empobrecidos.

Mas não fica só aí a coincidência. Completando sua mise-en-scène, o jornal justificou a troca dos termos argumentando que a palavra "singularidade" seria uma sofisticação inacessível a seu leitor. De fato, singularizar é luxo nos tempos que correm! Ainda mais no mundo das páginas diárias, fabricado por essa máquina cuja função é exatamente inversa: produzir indivíduos deslocáveis ao sabor do mercado e, para isso, precisando interceptar seu acesso aos processos de singularização. Isso sim, sem dúvida, adapta-se perfeitamente aos tais "tempos que correm"…

[Guattari, F.; ROLNIK, S. Micropolíticas - Cartografias do Desejo. Petrópolis: Vozes, 1986

Figura:http://www.gdubois.com/

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Nada novo...

Mundo novo, vida nova
Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquela velha estória
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus
Fazer de tudo e todos mera lembrança
Deixar de ser só esperança
E por minhas mãos, lutando, me superar
Vou rasgar no tempo o meu próprio caminho
E assim, abrir meu peito ao vento, me libertar
De ser somente aquilo que se espera
Em forma, jeito, luz e cor
E vou, vou pegar um mundo novo, vida nova
Vou pegar um mundo novo, vida nova
Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquela velha estória
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus

Gonzaguinha