sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cuide-se bem

CUIDE-SE BEM (Guilherme Arantes)

Cuide-se bem!
Perigos há por toda a parte
E é bem delicado viver
De uma forma ou de outra
É uma arte, como tudo...

Cuide-se bem!
Tem mil surpresas
A espreita
Em cada esquina
Mal iluminada
Em cada rua estreita
Em cada rua estreita
Do mundo...

Prá nunca perder
Esse riso largo
E essa simpatia
Estampada no rosto...

Cuide-se bem!
Eu quero te ver com saúde
E sempre de bom humor
E de boa vontade
E de boa vontade
Com tudo...

Prá nunca perder
Esse riso largo
E essa simpatia
Estampada no rosto...

domingo, 14 de dezembro de 2008

...

Pois sempre falam, não se pode pensar nada que não já tenha sido pensado e eu começo a creditar que sim. Não começo bosta nenhuma!! Já sabia disso, ora pois... Levante a mão quem tem um pensamento inédito!!
Pra quê estou escrevendo isso?! Pois bem, depois de minha revolta com as reticências não deixou de ser engraçado ver um poema, de uma mocinha até bem famosa, que fala justamente sobre viver em reticências, em ser mulher e essas coisas que toda mulher pensa pra se entir especial ou mais poderosa enquanto ser faltante disputando um pouquinho da supremacia masculina. Chego então a uma pergunta: o que será da minha criatividade? Mas, logo vem alguns pensamentos lacanianos em minha cabecinha pensante nada original: o importante não é o discurso, o pensamento em si, mas o modo que é articulado e o colorido que lhe é dado. Sim, viver em reticências...Vai-se lá saber em um simples poema se isso para a autora é a mesma coisa que é pra mim?! Uma análise , por favor!
Lá vai o dito cujo:
Mulher abstrata - Ângela Bretas.
Sou quem sou, simplesmente mulher, não fujo, nem nego,
Corro risco, atropelo perigo, avanço sinal, ignoro avisos.
Procuro viver, sem medo, sem dor, com calor, aconchego,
Supro carências, rego desejos, desabrocho em risos...
Matéria cobiçada... na tez macia, no calor ardente.
Alma pura, envolta em completa fissura. Sem frescuras!
Encontro prazer na forma completa, repleta, latente.
Meretriz sem pudor,mulher no ponto, uva madura!
Sou quadro abstrato, me entrego no ato à paixão que aflora.
Sou enigma permanente, sem ponto final, sem continências,
Sou mulher tão somente, vivendo o momento, sorvendo as horas.
Sou pétala recolhida, sem forma, sem cor, completa em essência.
Exalo a esperança, transpiro vontades. Não me tenhas senhora.
Sou mulher insolúvel, nada volúvel. Vivo a vida em reticências...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ahhh quantas lágrimas eu tenho derramado!

Não, não sao lágrimas de tristeza! Tenho estado bem feliz embora esteja cansadíssima. A coisa é que essa semana está sendo de despedida de todas as coisas que ocupam meu precioso tempo e que gosto tantooo. Hoje acabou o estágio do hospital, quarta a monitoria, e teve adeus aos pacientes, ao estágio da clínica e agora só me falta do orientador...que eu tô protelando mais que tudo! Afinal, são cinco anos do mais puro envolvimento estudantil, não luta, nada de lutas e politicagens estudantis. E quem for a favor se resuma a seu cantinho que não pedi opinião de ninguém!
Nem quero avaliar agora a minha caminhada universitária, prefiro deixar isso para a análise. Mas que é uma coisinha estranha isso de sair não sei pra onde, é!! Mas hoje, necessariamante hoje, eu estou particulamente feliz. Ao acabar o estágio do hospital o coordenador me elogiou, falou que meu jeito observador e as colocações foram muito boas, que contribuiu muito e que foi um prazer... Porra como é bom vc ser reconhecido por você, sem ter que ficar babando, falando que faz e acontece, pedindo conselho ou ficando até depois de todo mundo p ver se tem um pouquinho de atenção. Adorooo fazer as coisas por mim...novidade nenhuma isso.
Mas agora vem tanta coisa, tantas possibilidades, tanta impossibilidades, enfim.. E eu nada de economizar nessas intermináveis reticências. Minha vida vem seguida de reticências, um horror! Todo mundo fala com um pequeno vício de linguagem e eu falo com pensativas reticências, às vezes nem tão pensativas assim. Muitas são além de reflexivas, prolixas, cansativas ou até mesmo burrinhas, tipo "peraí que não sei o que quero falar...peraí que eu não sei...". Viajei, viajei, voooltaa!
Em falar em viagem (e seguindo sem completar nenum pensamento - como de praxe) teve a tal prova de Salvador esse fds, e lá foi a idiota fazer... (insistentes reticências). Prova difícil do caracaa, meu irmão, sem comentários. Praia do Forte? Cheia, entupida de baiano. Baiano? Um povo que anda gritando, que fala com você querendo que aquela pessoa bonita que passa lá do outro lado da rua escute, que só anda em bandos, que fala as gírias mais estranhas do mundo e que na maioria das vezes se resume a playboys e patricinhas no sentido mais fútil da palavra (óbvio que isso só corresponde o típico baiano - aquele que corre atrás do trio e te chama de pai ou minha nêga). Pois é...estive na praia do forte cercada de baianos e o pior: todos vestidos da mesma cor!! Quase enlouqueço!!! Solução: bebe minha filha! Bebe muito, dança e pensa que amanhã vc não lembra nem da metade da festa! Fazer isso acompanhada de Renata é a coisa mais fácil do mundo...ô mulher que bebe!! Mas o melhor: entrei em cocó! Outra coisa sem comentários.
Cocós à parte... Tô feliz, tô chorando e rindo e assim, "a sorrir, eu pretendo levar a vida..."

domingo, 30 de novembro de 2008

E volta o cão arrependido...

Eis que reapareço, depois de um grande tempo divagando cá com meus botões, enlouquecendo tentando entender Lacan, fazendo as provas mais estranhas de toda Psicologia com base psicanalítica, conhecendo o Rio, acabando curso e os estágios e, por fim, me perguntando "por quê"?!
Posso faar, nessa singela madrugada de domingo, que estou entrando em surto. Tanta coisa pra estudar e eu não consigo nem chegar perto dos livros!! Meu tempo não está seguindo o tempo real, ou pelo menos o lógico. Depois dos livros esquizofrênicos que li pra fazer a prova de residência no Rio parece que tudo é uma grande farsa, sei lá! Tanta cosa louca, que tenho a impressão que a gente pode sair afirmando qualquer loucura por aí que se entende como Psicologia e, às vezes, até é usada como uma referência pra uma prova supeeer concorrida!
Mas vamos às coisas boas do Rio... Que lugar encantadoramente urbano-interiorano! Lugares lindo, vegetação exuberante, ruas limpinhas (entenda-se que eu estava na zona sul), e o melhor: as praças!! Nunca vi tanto velhinho, babás com crianças, cachorros e casais tudo em uma praça só. Enquanto nas praças a população nativa parece estar alheia a tudo que acontece (a todos aqueles turistas passando) nas praias as pessoas parecem estar ali pra observar e ser observado. Ao mesmo tempo que o carioca se diz super liberal ele age como velhas senhoras de interior. Se você sai pra uma festa, no dia seguinte te contam a noite de todo mundo (e obviamente sabem sobre a sua), mas se você fala algo ele diz: "que nada, nem se importe, deixe esse povo pra lá"!
Ahhh, no albergue que fiquei eu me senti um misto de nativa-gringa, pois era a única mulher brasileira hospedada lá! O lugar era muito bom, as pessoas eram animadas, as festas eram ótimas, mas um detalhe:só se falava inglês. Eu ia dormir e acordava ouvindo inglês, às vezes ouvia francês, hebraico, finlandês e algumas outras coisas não identificáveis pra mim. Me perguntava a toda hora: "por que cargas d'água eu não continuei meu inglês quando eu tinha doze anos?!". Era o que mais voltava à minha cabeça...
Além do choque cultural com toda essa galera diferente (de trocarem de roupa na frente de todo mundo, de ver você e simplesmente nem olhar, de estarem conversando e sair sem nem dar um tchau...) teve o problema da língua, só nessa hora percebi que meu espanhol não me serve pra quase nada e não se tem como fugir do inglês, que me fazia sentir cada vez mais ignorante.
Conversando (em espanhol) com os franceses, com os quais me dei muito bem, falei que estava me fomando em Psicologia e que tinha ido fazer uma prova e o que ouço: "Cómo eres Psicóloga e no sabes hablar otras lenguas que no portugués y español?". Prefiro nem comentar...
Ainda tem a questão da minha cor. Inventei de ir com um australiano, que também tava no albergue, na praia. Pra quê? Foi a sensação de Copacabana! A galera olhando com cara feia, as piriguetes olhando pro cara, o vendedores enjoando, o coitado com vergonha e eu querendo por tudo voltar logo pro albergue...Acabou na hora com meu futuro quase romance bunitinho. Só depois a menina da recepção diz que eu deveria ter ido pra Ipanema porque Copacabana dia de domingo é muita muvuca. Só depois eu fico sabendo que eu devo me esconder pra não ser mal vista! Ai meu Brasil...
Depois de uma semana das mais variadas cocós me volto a Aracaju. Estudar, monitorar, atender, monografar, estagiar, fazer trabalhos... Volto a me encontrar com Lacan e Freud, dessa vez com bem menos empolgação, apesar de bem mais interesse pela residência de Salvador, e pensando como seria bom ter dinheiro pra não precisar correr tanto contra o tempo e que o maior erro da minha vida foi não ter continuado e feito outros cursisnhos a mais. Enfim... devia ter corrido mai no passado, quem sabe estaria numa marcha mais lenta agora?!
E acabo a madrugada pensando que amanhã eu me concentro pra estudar (na correria) por não ter conseguido fazer quase nada hoje. Jeitinho brasileiro!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Livro do desassossego



"Eu tenho uma espécie de dever,
Dever de sonhar
De sonhar sempre,
Pois sendo mais do que
Um espectador de mim mesmo,
Eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
Em salas supostas, invento palco,
Cenário para viver o meu sonho
Entre luzes brandas
E músicas invisíveis"

Fernando Pessoa

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Eu não tenho saco


"Eu não tenho saco. Eu tenho assim essa lembrança de festa de aniversário de minha infância... Maravilhosas. Mas eu acho que hoje tudo é demais. Tudo é over. Você não pecisa chamar um palhaço, um mágico, um pula-pula, gastar cinco ou seis mil reais. Acho legal organizar as festas das crianças. Acho legal as crianças ficarem juntas. Acho legal essa coisa das crianças se encontrarem e tal. Mas, eu acho demais. É over, over demais." Esse depoimento foi dado em uma entrevista anônima, que Lúcia Castro pôs no livro Infância e adolescência na cultura de consumo (p. 180).

Mas, eu li o referido depoimento em uma citação introdutória em Psicanálise e Psiquiatria com crianças, de Oscar Cirino, e no meu costumeiro viajar enquanto leio (algo com ir relacionando uma leitura à outra ou ao meu cotidiano) não pude deixar de pensar em minha formatura. Falta tão pouquinho...mas a coisa nem é essa!

Na verdade comecei a me questionar: O que é essa tal formatura? Pra que serve os agradecimentos? Pra quê festa?... Eu, sinceramente, não gosto dessa posição de "já formado" que os farmandos se colocam e não me agrada, nem um pouco, a idéia de gastar o suado dinheirinho em uma festança pra society. E lá vai aquele velho questionamento sobre a sociedade de cosumo, o adoecer social, ao mal-estar na modernidade, laço social e o objeto de consumo (o tal gadget) subjugando ou formando o sujeito, a falta de gozo e lá vai... vai longe...

E lá vai?! Quem falava isso?? Ahh, aquela paciente....

Volta Miziane, volta!!!! Vamos lá, vamos começar novamente!

"Eu não tenho saco. Eu tenho assim essa lembrança..."



segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Urgente


"É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer."

Eugénio de Andrade

sábado, 11 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Morte e vida explosiva


"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

(Morte e Vida Severina)

João Cabral de Melo Neto

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Fascismo psicanalista 2008


...Se bem que seja verdade que os integrantes das associações psicanáliticas oficiais chagam a ser fascistas (é o caso do Brasil, por exemplo), geralmente os analistas ortodoxos são bem liberais e libertários. Embora sem maiores conseqüências e nenhuma combatividade, se opõe aos regimes de força e, apoiando-se nos aspectos transformadores da doutrina psicanalítica, transmitem o protesto para os seus pacientes e para todos os âmbitos em que chega a se concretizar a famosa "ampliação em círculos concêntricos" do divã até os aparelhos ideológicos do Estado.

Gregório Baremblitt, 1986, em "Grupos: teoria e técnica"


Ai se nessa época ele escutasse a tal conversa das senhoras psicanalistas renomadas de Aracaju, em qual o discurso é que o conhecimento deve ficar retido entre elas, pois só assim se consegue o destaque nessa área tão misteriosa. Pois aqui os cursos são dados superficialmente e a custos surpreendentemente altos para poder custear as viagens e os cursos do tal Círculo Psicanalítico, onde estão os detentores da sabedoria e poder...Panacas!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

DONA DO RAIO

Dona do Raio: O Vento
Maria Bethânia
Composição: Doryval Caymmi

Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
Vamos chamar o vento
"É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala
As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos, passa e vai em frente
Ela não busca a rocha, o cabo, o cais
Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento
Por isso me parece imagem e justa
Para quem vive e canta num mau tempo"
"O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia
A minha voz é vento de maio
Cruzando os mares dos ares do chão
Meu olhar tem a força do raio que vem de dentro do meu coração
O raio de Iansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Iansã também sou eu
E Santa Bárbara é santa que me clareia
Eu não conheço rajada de vento mais poderosa que a minha paixão
Quando o amor relampeia aqui dentro, vira um corisco esse meu coração
Eu sou a casa do raio e do vento
Por onde eu passo é zunido, é clarão
Porque Iansã desde o meu nascimento, tornou-se a dona do meu coração
O raio de Iansã sou eu...
Sem ela não se anda
Ela é a menina dos olhos de Oxum
Flecha que mira o Sol
Olhar de mim.

domingo, 24 de agosto de 2008

Sentir é criar

Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o Universo não tem ideias.
Mas o que é sentir? Ter opiniões é não sentir.
Todas as nossas opiniões são dos outros. Pensar é querer transmitir aos outros aquilo que se julga que se sente. Só o que se pensa é que se pode comunicar aos outros. O que se sente não se pode comunicar. Só se pode comunicar o valor do que se sente.
Só se pode fazer sentir o que se sente. Não que o leitor sinta a pena comum [?].Basta que sinta da mesma maneira.
O sentimento abre as portas da prisão com que o pensamento fecha a alma. A lucidez só deve chegar ao limiar da alma. Nas próprias antecâmaras é proibido ser explícito.
Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela.
Ser outra pessoa é de uma grande utilidade metafísica. Deus é toda a gente. Ver, ouvir, cheirar, gostar, palpar - são os únicos mandamentos da lei de Deus. Os sentidos são divinos porque são a nossa relação com o Universo, e a nossa relação com o Universo Deus.(...) Agir é descrer.
Pensar é errar. Só sentir é crença e verdade. Nada existe fora das nossas sensações. Por isso agir é trair o nosso pensamento.(...) Não há critério da verdade senão não concordar consigo próprio.
O universo não concorda consigo próprio, porque passa. A vida não concorda consigo própria, porque morre. O paradoxo é a fórmula típica da Natureza. Por isso toda a verdade tem uma forma [?] paradoxal.(...)
Afirmar é enganar-se na porta.Pensar é limitar. Raciocinar é excluir. Há muito que é bom pensar, porque há muito que é bom limitar e excluir.(...)
Substitui-te sempre a ti próprio. Tu não és bastante para ti. Sê sempre imprevenido [?] por ti próprio. Acontece-te perante ti próprio.
Que as tuas sensações sejam meros acasos, aventuras que te acontecem. Deves ser um universo sem leis para poderes ser superior.São estes os princípios essenciais do sensacionismo. (...)
Faze de tua alma uma metafísica, uma ética e uma estética. Substitui-te a Deus indecorosamente. É a única atitude realmente religiosa (Deus está em toda a parte excepto em si próprio).Faze do teu ser uma religião ateísta; das tuas sensações um rito e um culto. (...)

Fernando Pessoa, in 'Sobre «Orpheu», Sensacionismo e Paùlismo'

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

PARO


Paro. Ouço os acordes. Acordo, e espero, sinceramente, que você nunca acorde para esse acordado mundo. Esse lindo, sincero e silencioso mundo de beleza, de tristeza, de melancolia e alegria que estamos. Que você esqueça ou que simplesmente nunca lembre... mas o corpo não esquece. O corpo marca tudo aquilo que tentamos não permanecer, ele fica como uma linguagem silenciosa entre si, entre nós, uma linguagem simbólica que corrói o que há de bom e que torna tudo que há de triste em uma linda melancolia, que dá um ar bucólico a toda e qualquer lembrança do que não existiu e tornamos essa linguagem em um significante. Este se faz sentir silenciosamente no nosso verdadeiro mundo, aquele onde tudo ainda é perfeito, ainda é lindo e tem um cheiro de brisa com uma leve música ao fundo...não, esqueça tudo! Não, não acorde...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Era voz de mulher

"Era a voz de uma mulher que se sente feliz por estar viva, que satisfaz seus caprichos, que é descuidada e carente, e que fará tudo para preservar o mínimo de liberdade que possui. Era a voz de uma doadora, de uma gastadora; seu apelo atingia o diafragma, mais do que o coração."
Henry Miller - Dias de paz em clichy, p.10

quarta-feira, 23 de julho de 2008

DESNUDOS


DESNUDOS


Por el mar vendrán

las flores del alba

(olas, olas llenas

de azucenas blancas),

el gallo alzará

su clarín de plata.


(¡Hoy! te diré yo

tocándote el alma)


¡O, bajo los pinos,

tu desnudez malva,

tus pies en la tierna

yerba con escarcha,

tus cabellos verdes

de estrellas mojadas!


(...Y tú me dirás

huyendo: Mañana)


Levantará el gallo

su clarín de llama,

y la aurora plena,

cantando entre granas,

prenderá sus fuegos

en las ramas blandas.


(¡Hoy! te diré yo

tocándote el alma)


¡O, en el sol nacido,

tus sienes doradas,

los ojos inmensos

de tu cara maga,

evitando azules

mis negras miradas!


(...Y tú me dirás

huyendo: Mañana)


Juan Ramón Jiménez

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O invisível

"... O invisível é parte da realidade, ele é da ordem da Cidade, ou, para sermos mais espinosistas, da ordem da Natureza. Uma ecologia que pretendesse preservar o ar relativamente despoluído, isto é, invisível, deveria preocupar-se em manter arejado o invisível. Pois se o regime da visibilidade total é incapaz de substituir o invisível, ele é bem capaz de poluir.
O que experimentamos num nível mais imediato, apesar de todas as possibilidades alentadoras que as tecnologias inventam sem cessar, é justamente isso: uma espécie de poluição do invisível. Como diz Deleuze, estamos cercados por todos os lados de uma quantidade demente de palavras e imagens, e seria preciso formar vacúolos de silêncio para que algo merecesse ser dito; ou, por extensão, vacúolos de imagens para que algo merecesse enfim ser visto. Técnicas de despoluição do invisível, não num sentido asséptico de preservação, mas de possibilitação. Como quando Deleuze mesmo conta que não se desloca muito para não espantar os devires, não é assepsia, mas possibilitação"...


A NAU DO TEMPO-REI: 7 ENSAIOS SOBRE O TEMPO DA LOUCURA - PETER PÁL PELBART

domingo, 22 de junho de 2008

'É disso que elas gostam"


Inteligência é o maior afrodisíaco que um homem pode oferecer.

Por Kika Salvi


"Nem de longe é a beleza de um homem que encanta a mulher. Para a sorte de vocês (ou azar, vai saber...), nosso barato é diferente, e pode ser definido, entre outras coisas, como 'virilidade'...

Tem a ver com autoconfiança, sempre. E com perspicácia, qualidade muito rara num homem. Ou você pensou que seria fácil? Não ligamos pra barriga, careca ou pneuzinhos, até porque sabemos muito bem que nada disso atrapalha, tanto quanto o seu oposto pode ser absolutamente desprovido de encantos se não vier acompanhado de um perfil psicológico substancioso...

Acho que poucas coisas nesta vida são mais eróticas e provocantes do que a inteligência. E quem a tem também possui senso de humor – porque somente os inteligentes não levam nada muito a sério e sabem se divertir mesmo com as intermináveis chatices cotidianas. Então temos inteligência e senso de humor, que somados à malícia (outro atributo dos neurologicamente privilegiados) arrebatam as mulheres e tornam um homem ainda maior aos nossos olhos. Porque não basta pregar a gente na parede. Isso todo ser munido de um bom falo é capaz. É preciso, para se diferenciar da varonil multidão, despertar nosso impulso primitivo racionalmente ativável...

Vocês olham uma mulher e pensam: 'Meu Deus, que peitos, que nádegas, que cinturinha escultural, que boca mais lasciva...', e já começa o devaneio e o desejo de abater. Nós, não. É impossível uma mulher (minimamente inteligente, claro) olhar prum homem esteticamente interessante e, sem nenhuma conversa, desejar ser invadida. Não. Eis aqui a diferença: nosso desejo de invasão não prescinde do intelecto (você já deve ter presenciado o olhar admirado e sensual das alunas de um grande professor). É preciso passar primeiro pela porta da razão para chegar à porta da alegria. E quanto melhor for o instrumento pensante do sujeito, maiores as chances de acolhida de um outro também interessante e mais mecânico agente.
Porque mulher gosta mesmo é de ser surpreendida, e isso só acontece quando se depara com alguém mais esperto do que ela. Todos sabem o jogo que estão jogando, esse interminável gato-atrás-do-rato que motiva nossa vidinha. E é preciso reconhecer as suas regras, o que requer maturidade. Homem que baba demais, no chance. Os que bajulam e não convencem, também. Os cafas, cruz-credo! A gente tem olho clínico pra eles e passa longe quando os vê. Os demasiadamente (ou precipitadamente) românticos têm grande chance de morrer na praia, porque acaba o desafio. Os posudos e pretensiosos não duram mais do que uma noite. Restam então os inteligentes.
Estes, sim, sabem do que somos feitas. E sabem que, por trás de toda empáfia, vaidade ou sedução, está um bichi-nho indefeso em busca de acolhimento, louco por um colo. A virilidade está nisso, na consciência masculina de que não somos assustadoras nem lascivas, mas apenas mulherzinhas assustadas e ávidas por um olhar que nos descubra. E nos devore, de preferência."

domingo, 1 de junho de 2008

Balada de loucos

Mudos atalhos afora, na soturnidade [atmosfera sombria, triste] de alta noite, eu e ela caminhávamos.
Eu, no calabouço [prisão subterrânea] sinistro de uma dor absurda, como de feras devorando entranhas, sentindo uma sensibilidade atroz morder-me, dilacerar-me.
Ela, transfigurada por tremenda alienação, louca, rezando e soluçando baixinho rezas bárbaras.
Eu e ela, ela e eu! — ambos alucinados, loucos, na sensação inédita de uma dor jamais experimentada.
A pouco e pouco — dois exilados personagens do Nada — parávamos no caminho solitário, cogitando o rumo, como quando se leva alguém a enterrar alguém, as paradas rítmicas do esquife[caixão]...
Eram em torno paisagens tristes, torvas [pavorosas], árvores esgalhadas [com ramos cortados] nervosamente, epileticamente — espectros [fantasmas] de esquecimento e de tédio, braços múltiplos e vãos, sem apertar nunca outros braços amados!
Em cima, na eloqüência lacrimal do céu, uma lua de últimos suspiros, morta, agoniadamente morta, sonhadora e niilista [adepto da doutrina de descrença absoluta] cabeça de Cristo de cabelos empastados nos lívidos [descorados, acinzentados] suores e no sangue verde de letais gangrenas.
Eu e ela caminhávamos nos despedaçamentos da Angústia, sem que o mundo nos visse e se apiedasse, como duas Chagas mascaradas na Noite.Longe, sob a galvanização [revestimento] espectral do luar, corria uma língua verde de oceano, como a orla de um eclipse.

(Cruz e Sousa*, Evocações)

* poeta nascido em 1861, negro que morreu aos 36. Casou-se com Gravida que enlouqueceu e passou por vários períodos de internação em hospitais psiquiátricos. Nesta balada relata um episódio em que estava passeando com sua mulher e percebe que ela subtamente estava enlouquecendo.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Valerá a pena?

"... - E seu romance, publicado agora?
- É uma merda.
- Então por que publicou?
- Porque não havia outro jeito, já estava escrito. Escrever é renunciar - e eu não sei renunciar. Gide disse o diabo desta vida é que entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove. Pois bem: a literatura é como se você tivesse de renunciar todos os cem...
Eduardo nunca ouvira falar em Gide.
- Parece preceito evangélico: aquele que perder sua vida a salvará. Mas às avessas, procurar Deus onde ele não se encontra. A atividade literária é exatamente isso. Não se deter diante de nada. Valerá a pena? Os que têm nojo fracassam. Que se faria do lixo, se ninguém quisesse ser lixeiro? Mas isso é um pouco cedo para você entender.
- Eu entendo - mentiu Eduardo, aturdido.
- A arte é uma maneira de ser dentro da vida. Há outras...É uma maneira de se vingar da vida. Assim como se você procurasse atingir o bem negativamente, esgotando todos os caminhos do mal. É preciso ter pulso, é preciso ter estômago..."


Fernando Sabino (O encontro marcado)

*Gide: André Gide, escritor francês falecido em 1951

domingo, 18 de maio de 2008

e ser feliz...


Ando devagar porque já tive pressa,
E levo esse sorriso, porque já chorei de mais,
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou
Nada sei, conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs.
È preciso amor pra puder pussar, é preciso paz
Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida, seja simplesmente
Compreender a marcha, ir tocando em frente,
Como um velho boiadeiro, levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou,
Estrada eu sou, conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maças,
È preciso amor pra puder pussar, é preciso paz
Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora,
Cada um de nos compõe a sua historia, cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz,
conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maças,
È preciso amor pra puder pussar, é preciso paz
Pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa,
E levo esse sorriso, porque já chorei de mais,
Cada um de nos compõe a sua historia, cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz
(Almir Sater)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Presente!


- Mizi, já sabe se vai querer algum presente de aniversário?
- Ahhh, mãe...xe pra lá!
- Dê pelo menos uma pista!!
- Tá bom vá... Eu quero um desse aqui, olhe!!
- Mas tem um mau gosto viu...

E lá vou eu ficar sem presente :/

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A histeria e o útero...


"Nas mulheres, o útero e a vulva não se parecem menos a um animal desejoso de procriar, de maneira que, se permanece sem produzir fruto por largo tempo da idade propícia, se irrita e se molesta, errando de um lado a outro dentro do seu corpo. Obstrui as passagens do ar, impede a respiração, gera angustias e engendra enfermidades, das quais o único remédio é a união do homem e da mulher, acoitando pelo desejo e amor, para que nasça um fruto, que colhem como o das árvores. Semeiam no útero, como em um campo fértil, animais sem forma, invisíveis por sua pequenez, logo diferenciando suas partes ao desenvolvê-las, as alimentam no interior e finalmente dando-lhes à luz, fazem deles seres completos. "

Platão, Timeu.

E a Psicanálise nem sonhava em nascer...

sábado, 10 de maio de 2008

quarta-feira, 7 de maio de 2008

ser??



Almoçando às pressas, pensando em várias coisas e quase assistindo ao “Repórter Eco”, e foi assim que voltei a pensar sobre uma coisinha que me incomoda muito: o fundo do cenário em entrevistas!!!

Ainda ontem tava conversando e falei: “É, imagem é tudo! E pra que ter conteúdo se hoje em dia o que interessa é a embalagem?!” Sim, isso foi uma crítica... Eis que passa no programa um rapaz falando sobre ambientalismo com uma estante cheia de livros atrás e depois percebo que ele estava numa livraria. Nisso comecei a pensar em um casal acusando o outro com uma imagem de santo atrás e entre eles; num casal dizendo ser inocente, segurando um terço; um médico falando qualquer besteira, mas sempre com uma estante cheiaaa de livros atrás!!

Incrível como usamos artifícios para mascarar algo ou passar uma imagem que queremos que os outros acreditem ser a verdade. Aí comecei a lembrar de um caso de um rapaz que aprontava todas, mas tinha aquele ar de “moço de respeito”, com um crucifixo no pescoço, com uma fala cheia de rebuscamentos. Nisso me veio vários outros casos, histórias, pacientes... e fiquei assim almoçando, viajando, pensando cá com os meus botões. Será que se faz isso por querer enganar ou ter a confiança do outro ou é para se enganar e assim tentar se convencer que é uma coisa que sabe-se que não é?!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Segunda chuvosa


Nada como uma segunda-feira chuvosa com ressaca, dor de cabeça, enjoou entre outras coisas mais, pra sentir saudades...daquela amiga, daquele abraço, daquelas conversas engraçadas que há tempos não rola mais, e das conversas sérias, então, já é de lascar!!! Ô meu Deus nada melhor que uma conversa séria e embolada depois daquela cerveja, nos tempos chics é depois daquele wisky, uma confissão inútil, uma demonstração de amor descarada....kkkkkkk, um parabéns pelo seu dia de concepção!

Por que nunca mais se teve uma noite surreal daquelas que sai todo mundo mal vestido e calçando havaianas e volta rindo de manhã contando as coisas mais engraçadas que se pode ouvir? E uma madrugada puxando uma angústia, como diria Fernando Sabino, falando que é muita desvalorização, que é muita inutilidade pessoal, essas coisas só pra baixar a moral e ir dormir se sentindo um nada? E passar a noite cantando?? Ai que saudade daquele "já que ja tô desvalorizada mesmo agora é só pegar o celular e ligar pra alguém bem desvalorizante..."; "e o que é uma Topic??"; "aiiii tenho que ser menos decidida, menos independente"...

E as festas de inutilidade pública heim? Quando ficava todo mundo bebendo por motivo nenhum, indo de boteco em boteco, e rolava uma velha camaradagem, sem interesse, sem "movimentos paralelos", onde defeitos e qualidades pouco importava já que era todo mundo tão bem aceito...E o que não faz um dia chuvoso e um básico mal-estar, uma dorzinha de cabeça, um enjoouzinho de leve???

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Renovar

"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."
(Manoel de Barros)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ah, as mulheres de vinte


Ah, as mulheres de vinte anos! Entre vinte e trinta. É o que há de melhor em mulheres no Brasil. E, antes de ser tachado de velho tarado, aviso: não estou falando do corpo, não. Mas da cabeça. É a cabeça menos preocupada em se tornar linda fisicamente. São lindas, simplesmente são. Desde a geração da minha bisavó (nascida no final do século 19) eu não vejo mulheres brasileiras tão autênticas. Tão elas. São elas, entre 20 e 30.
E eu acho que eu vou arriscar um palpite. Elas são filhas do que já houve de mais doido e revolucionário neste Brasil. São filhas de ex-hippies, ex-lideres políticos estudantis ou de outras minorias, filhas de pai que já fumaram (e a maioria tragou), filhas de quem viu o homem subir no espaço e dizer que a terra é azul e, especialmente, filhas de feministas quase ortodoxas. Enfim, filhas de uma geração que lutou para abrir portas.
Os seus pais, por serem iniciantes (além de muito jovens) em suas rebeldias, foram extremamente radicais. Me lembro de uma amiga feminista que não admitia que um homem segurasse no seu cotovelo para ajudar a atravessar a rua. Mas as mulheres de vinte não são feministas, são fêmeas. Ponto.
E as mulheres, que hoje têm entre 20 e trinta anos, souberam amenizar todo aquele nosso radicalismo. Parece simples, mas já nasceram com a sabedoria e a revolução que seus pais fizerem. Alguns, até morrendo.
Tudo isso além, é claro, daquela tatuagem que entra para dentro do biquíni, só pra gente ficar imaginando o que é aquilo e onde vai dar. Além, é claro, daquela orelha cheia de brilhantezinhos. Além, é claro, daquela certeza de quem sabe que é. Além, sobretudo, do tom que vai do cor-de-rosa ou jambo verde-amarelo.
Antes mesmo de começar a escrever sobre você, que tem entre 20 e 30, recebi um mail de uma de 22, jornalista e emancipada:
“Meu querido, mulher de 20 e poucos anos, não fica rindo quando fuma um baseado, não. Fica sim, louca para ficar, para experimentar todas as sensações que, por ter 20 e poucos anos, ela ainda não conhece. E não há nada mais excitante do que a curiosidade - principal qualidade da mulher de 20. E com 20 anos essa curiosidade vem livre de medos e receios, pronta para usar e aguçar.
Mas o melhor de tudo é que com vinte e poucos anos vc acredita que a vida é simples; que nós vivemos do que acreditamos; amamos tudo e todos, queremos dar e receber muito amor; conhecer gente, trocar energias, pegar um pouquinho de cada pessoa que passa pela nossa vida, desejar apenas fazer o bem, ser uma pessoa boa. Papinho bicho grilo este, né? Pode ser, mas tão mais saudável do que pensar na barriguinha que tá crescendo, no botox que é caro, no cabelo que precisa de escova, no medo de envelhecer e etc”....
Ah, as mulheres de vinte... Abreviam tudo!
A maioria delas já é mãe. São mulheres que convivem com filha, mãe e avó. Algumas até com bisavó. Apenas elas podem tirar proveito de viver um século inteiro sem sair de si mesmas. Aprendeu com a avó, com a mãe e agora se assusta com a própria filha. Que não a chama de senhora, onde já se viu? E a enfrenta na frente “das visitas”.
Demorou um século para surgirem as mulheres de vinte. E nos puseram nos nossos devidos lugares. Admiradores, fãs e, porque não dizer, pai de uma delas que me ensina, diariamente, que viver não é tão complicado assim. Basta ter vinte anos. Sempre. Mesmo tendo acabado de fazer 58!

Mario Prata (2004)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dia Nacional do Chorinho




Morreeeeendoooooo de cansada, mas não se pode esquecer a beleza que no mundo existe!!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ser profundo...


lá no fundo não tem luz
que reluz e dá sabor
ventos, cabelos e nús
despenteando o amor

nem a dor é cor vermelha
o rancor te dói a veia
faz o peso ser tão peia
que carrega à vida alheia

com os gritos e murmurios
infectando alguns rios
lençois freaticos e bebidas
avassalador de vidas

prefiro a cor da fruta viva
a rapariga toda perdida
de amores e desejos
esperando uma mordida

e engordar e esfalecer
melhorar e fazer de novo
cada momento novo gozo
e se a hora merecer
tudo de novo

isso sim
ao invés de poço
ser profundo
ser de novo


Felipe Amarante
(um presente que ganhei)
figura: The Garden (Miró)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Violência

"O maior perigo não está nas armas e nas bombas, nem nas guerras e nos militares, mas no coração humano: agressão, fanatismo, prepotência, excesso de zelo, incapacidade de imaginar, incapacidade de ouvir, de rir, principalmente rir de nós mesmos". Amós Oz

terça-feira, 15 de abril de 2008

Lavoura

E eu aqui louca pensando no filme “Lavoura Arcaica”, que por sinal achei lindíssimo, e lamentando porque não pude ir pra discussão que teve sobre ele. Mas...enfim, o que se pode falar sobre ele sem ser um perverso desejando um incesto com uma histérica??
E me volta a saga do Movimento Institucionalista, pois então o que é uma família senão uma instituição? Instituições como sendo composições lógicas, um conjunto de leis e princípios que prescrevem ou proscrevem comportamentos e valores, ou seja, dizem o que deve ser, o que não deve e o que é indiferente, sendo entidades abstratas.
Então o que vejo aí? O conceito de atravessamento (instituídos) contra as transformações postas pela Transversalidade (instituinte) tentando uma fracassada transformação, uma ruptura com a cultura de dominação, exploração e mistificação.
O pai fica apenas como o símbolo maior do instituído, pois a família toda segue a cultura patriarcal, sem contestação, sem indagações ou qualquer movimento de revolta, eles seguem as regras impostas com total apatia, regras de religiosidade, de paciência, complacência de sacrifícios... O André assume o posto de instituinte, de força transformadora da instituição, um processo, um movimento dentro dessa instituição fechada e tão sólida que é a família e suas austeras regras.
Isso, isso...esse é um de meus olhares sobre esse interessantíssimo filme, esse é um dos milhares de olhares que quem assistiu pode ter.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O ser doente

" ...compreender o ser humano, o existir-aí-no-mundo, na sua plenitude, no seu complemento. Esta compreensão só se dá, de forma significativa, quando assume o homem como podendo-não-ser-aí-no-mundo a qualquer momento. Enquanto o humano não chegar até seu fim, e quanto não houver ele percorrido toda sua trajetória no mundo, ele permanece incompleto. Não chegou a completar a sua inteireza, a sua totalidade. O homem, como ser-no-mundo, tem acesso ao significado de estar-sendo e este é o ponto mais importante, porque e somente porque é finito."
Martins J.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Erótica!!

Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

Rubem Alves

Figura: Monet

domingo, 6 de abril de 2008

Mamis


...depois de 5 min o telefone toca, é Perol:
-Mizi?!
-Oi
-Tá sabendo da novidadeeee?
-Tô!!!!!
- E aí?
- Adoreeeiiii! E você?
-Também!!! Como você tá se sentindo?
- Hum...que só falta eu e você...
- Ahhh, mas dependendo de nós duas...eu tenho namorado, né?!
- Sei...tô me sentindo tia mesmo!!! Já que nem namorado tenho...
- kkkkkkkkkkk
-kkkkkkkkkkkkkk
-Mas se depender de mim, nada feito.
- Apois daqui que eu desencaminhe todos esses sobrinhos...vai demorar pra querer ter o meu! Repare só: tenho que contar a vida dos pais pra eles, tenho que ensiná-los a responder, a desobedecer, tenho que ensiná-los a dizer "que nada, tô de boas", tenho tanta coisa de ruim a passar...tão cedo nem tenho tempo!!!
-kkkkkkkkkkkkk. Idiota!!!!!!
- E o seu quando sai?!
...
Mamães de 1ª viagem: Tânia, Simone, Nara, Beth, Amanda, Liana, Poliana, Joseane, Roseane, Natália, Gabi, tia Márcia e a tia Rose (que não é de 1ª, mas é a mãe de Lelê - gostosíssima) !!!!!!

sábado, 5 de abril de 2008

Aracaju!!!

Eu estava singelamente aproveitando mais uma sessão "sexta à noite: tempo de derrota" deitadinha em minha cama ensaiando um provável estudo de uma das apostilas que me perseguem e cruzam meu caminho...assim, só esperando a vontade chegar. E,como sempre, não deu outra, logo pensei: vou ligar a TV rapidinho, só pra ver que programaaaçoo está passando. Eis então minha surpresa: Aracaju...destaque na Globo!!

A surpresa não foi ela ter sido eleita a capital de melhor qualidade de vida...não, isso era mais que provável, a surpresa foi o mundoo reconhecer isso!!! E rachei de rir com a repórternaquela bicicletinha ridícula andando na ciclovia perto do DIA, e todos os pedreros atrás tendo seu dia de glória; com todas aquelas senhoras (que não passavam de dez) fazendo o melhor de si nos exercícios pra sair bem na Globo; com todos aqueles caras indo trabalhar e subindo a ponte dos cajueiros de bicicleta...e enfim pensei que era bem provável me pegarem no meio da pederagem, que meus iguais (proprietários de uma velha bike) estavam sendo elogiados por preservarem a saúde e o meio ambiente...e me veio uma conclusão final: como é bom ser pobre, não tenho carro nem dinheiro pra pagar minhas contas, quando pego minha magrelinha vermelha e saiu não posso passar numa construção ou no meio desses ilustres coadjuvantes do Globo Repórter sem ouvir um singelo elogio, mas estou sempre com a pele com um bronze, continuo em forma, meu coração está bem saudável, o meio ambiente agradece...kkkkkkkk

Como é bom não ter um carro, como é bom não ter dinheiro pra táxi, como é bom morar em Aracaju!!!!

PS: muitas vezes ando porque gosto mesmo ;)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Brasil



E eu nunca mais me atrevo a dizer que no Brasil não existe cobra no meio da rua, nem macaco andando pela praia!!!

Créditos do vídeo: Davi e Mariano.

Singularidade


" A Folha de São Paulo convidou Guattari para uma mesa-redonda, pedindo-lhe que propusesse um tema. Ele sugeriu "Cultura de massa e singularidade". No entanto, o título anunciado foi "Cultura de massa e individualidade". O termo "singularidade", segundo disseram, parecia ao jornal demasiadamente sofisticado, inacessível a seu leitor - exatamente, o consumidor de cultura de massa...

Ao substituir o termo "singularidade" por "individualidade", o jornal, curiosamente, encenou o próprio tema do debate: cultura de massa e singularização não podem aparecer numa mesma frase; elas são, na realidade, incompatíveis. A imprensa, enquanto produtora de cultura de massa, alimenta-se de fluxos de singularidade para produzir, dia a dia, individualidades serializadas. Democraticamente, ela "amassa" os processos de vida social, em sua riqueza e diferenciação e, com isso, produz, a cada fornada, indivíduos iguais e processos empobrecidos.

Mas não fica só aí a coincidência. Completando sua mise-en-scène, o jornal justificou a troca dos termos argumentando que a palavra "singularidade" seria uma sofisticação inacessível a seu leitor. De fato, singularizar é luxo nos tempos que correm! Ainda mais no mundo das páginas diárias, fabricado por essa máquina cuja função é exatamente inversa: produzir indivíduos deslocáveis ao sabor do mercado e, para isso, precisando interceptar seu acesso aos processos de singularização. Isso sim, sem dúvida, adapta-se perfeitamente aos tais "tempos que correm"…

[Guattari, F.; ROLNIK, S. Micropolíticas - Cartografias do Desejo. Petrópolis: Vozes, 1986

Figura:http://www.gdubois.com/

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Nada novo...

Mundo novo, vida nova
Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquela velha estória
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus
Fazer de tudo e todos mera lembrança
Deixar de ser só esperança
E por minhas mãos, lutando, me superar
Vou rasgar no tempo o meu próprio caminho
E assim, abrir meu peito ao vento, me libertar
De ser somente aquilo que se espera
Em forma, jeito, luz e cor
E vou, vou pegar um mundo novo, vida nova
Vou pegar um mundo novo, vida nova
Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquela velha estória
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus

Gonzaguinha